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azuleazul

azuleazul

Simplesmente letras...

26.05.06 | Kita

Olho as letras espalhadas no meu silêncio. As letras que são eu, que são tu. As letras que nos constróiem e dizem o que somos. Sem sentido. O meu companheiro de aventuras... escrevo tantas vezes e tantas vezes não há qualquer razão, qualquer sentido... simplesmente escrevo, simplesmente esvazio a minha alma de letras que formam o meu ser e a minha forma de ver a vida. O meu estado de espírito, o meu olhar interior, o ar que respiro... Simplesmente deixo ser quem sou ao juntar as letras espalhadas. Junto-as num sentido sem sentido e nasce mais um pouco de mim. O renascer das letras... um expressar de mim mesma... e eu sou o sem-sentido que a vida muitas vezes traz. Em cada raio de sol, em cada onda de mar, em cada manhã aberta de azul...

Kita

A amizade de uma vida

22.05.06 | Kita



Acordei sonhando contigo, fugindo de ti para não sofrer... Já fomos irmãs, as melhores amigas, fomos tudo uma da outra... e agora não sei o que somos. Desapareceste quase completamente do meu horizonte e eu não sei quem és. Dizes que vens... esperamos-te esperançosas, mas o tempo passa e só o vazio fica.



Foste algo de mim e isso não se esquece... por vezes, quero parecer indiferente, mas lá no fundo... como se pode deitar toda uma infância para o rol do esquecimento? A luta que sempre travámos, a cumplicidade de cada momento...



Afastaste-te, a vida levou-te para longe de mim e não te quer trazer de volta... que ventos foram estes que não te deixam regressar? Vais ter um bebé... e parece-me que, apesar de todos os momentos que vivemos, não me vais deixar ver a tua barriguinha... Já passaste por tanta coisa e nem me deixas ser o teu braço amigo...



Queria que tudo voltasse, que voltássemos a ser crianças no teu quintal a comer cenouras. Queria que voltássemos a jogar às escondidas em tua casa. Queria que voltássemos à tua eira e fizessemos de trapezistas nas bicicletas, caíssemos e nos ríssemos de tudo. Queria ver de novo o teu sorriso de criança...



Mas o tempo e a vida não perdoam e seguem... e tu já não és criança. A mim ainda me resta um pouco de alma. Mas a tua torna-se cada vez mais desconhecida para mim, cada rara vez que te encontro... já não sei qual é o teu mundo, não vivo no teu mar...



E... só uma grande amiga me faria verter lágrimas ao escrever assim... de uma forma ou de outra, estarás sempre presente, ainda que só na minha alma de criança e no meu coração magoado de adulta...













...

18.05.06 | Kita

Sinto-me indefesa e perdida quando vos vejo na rua... olhar distante, perdidos de tudo, cheios de silêncio suplicante por um pedaço de sorriso...

Sinto-me fraca, impotente perante tanto sofrimento espelhado nos olhos da vossa alma perdida e,partida a minha alma, fujo de tudo, até de mim mesma, do que sou... sinto a vossa dor e não posso ser o que queria para vocês...

Sinto-me vulnerável... sinto a indignação de um mundo onde todos têm o direito de ter as mesmas oportunidades, o mesmo direito a sorrir, o mesmo direito a viver a vida digna e alegrar-se com o nascer do sol... e onde nada disso acontece.

Sinto vergonha deste mundo, onde vocês mendigam por um bocado de pão, um pedaço de tecido para se cobrirem durante a noite ao relento, uma moeda para o leite do vosso bebé... não entendo como podem haver tantas desigualdades entre pessoas, como pode haver tanta indiferença das pessoas que poderiam realmente fazer a grande diferença...

E no meio deste mundo, sinto que não sei viver. Queria vida para todos, vida onde haja sempre algo por que sorrir e lutar.

Mas sinto que cada dia que passa o mundo se torna mais degradante... por vezes somos tão egoístas... Só queria dar-vos o mundo...

Kita

 

 

Ligação

07.05.06 | Kita

Sinto-me presa ao teu olhar como as estrelas se prendem ao céu... sinto a minha alma renascer em noite de Lua Cheia, onde a tua presença me toca ao de leve, ao longe...



Sinto-me tua, como a onda do mar que bate na areia se confunde de azul... sinto-me eu, com alma de menina que acabou de renascer para conhecer a vida, o sonho que é amar alguém envolvido numa onda de pétalas de rosa batendo no meu jardim...



Sinto-me... e sinto o teu olhar preencher-me a alma enquanto dormes. Fico a olhar-te eternamente... até o meu olhar preencher o teu em doces carícias. Sinto-te... uma parte de ti preenche a minha alma enquanto durmo de cabeça encostada ao teu ombro e me sinto a mulher que nunca pensei ser... é quando o teu calor invade cada recanto meu e sou tudo o que nunca fui e que nunca seria sem ti. Completas-me. E é aí que sei. Basta sentir... e nada mais importa.





Pedra Filosofal

04.05.06 | Kita
Não costumo colocar aqui textos de outros autores, gosto de escrever os meus próprios pensamentos... mas este poema tocou-me pelo seu sentido tão profundo e decidi partilhá-lo. O sonho... é simplesmente vida. Essa vida que se deixa soltar entre estas palavras...



Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão, Poesias Completas