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azuleazul

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Revelações

28.04.10 | Kita

A world full of stars, a world full of feelings...

 

Um dia encontrei-te. Tu encontraste-me e, pouco a pouco, sem querer, conseguiste cativar-me... com pequenos gestos, pequenos olhares, pequenos silêncios presos num coração tímido. Cada segundo juntos num banco de escola, num muro em redor, num pedaço de vida começou a ser vivido da forma mais intensa imaginável... eras tímido. Sempre foste. Mas acho que foi essa uma grande parte da tua conquista dentro de mim na altura.

 

Conseguiste que cada segundo contigo fosse um pedaço de vida. A minha vida, o meu sonho... o meu primeiro amor.

 

E ficávamos ali. Simplesmente com o silêncio inconfundível da natureza e o palpitar dos nossos corações. Queríamos mais, mas nem eu nem tu ousávamos quebrar a barreira de um medo tolo, de uma timidez de criança.

 

Mas sempre foi essa criança dentro de ti que eu amei. Mesmo depois de tantos anos, é ainda esse menino feito homem com quem eu sonho mesmo acordada.

 

Depois de todo aquele tempo, não esperava aquela reaproximação com que me brindaste naquela tarde. Tiveste a coragem determinante para sermos quem somos hoje. Reapaixonei-me por ti depois de tanto tempo. Agi sem pensar naquela noite. Tinha decidido exactamente o oposto e, talvez por alguma força maior que me dizia para lutar pela minha felicidade, decidi mergulhar. E mergulhei, talvez com muito medo, sem nenhumas certezas, mas mergulhei... mergulhei em algo que eu não acreditava plenamente. Mergulhei numa noite sem estrelas, só com o teu luar. Um luar que me iluminou... talvez fosse a tua auréola :)

 

A minha única certeza: queria voltar a sorrir... já não sabia o que era isso há demasiado tempo. Tinha morrido há demasiado tempo...

 

E a verdade é que depois dessa noite iluminada na minha (nossa) vida, os dias foram muito cinzentos. A tua luz não era suficiente para iluminar o meu coração. Mas continuaste ali. Sem dúvidas. Sem lamentos. Sem pedir nada. Nem o meu amor, que o teu olhar suplicava.

 

A verdade é que o teu amor acabou por ser suficiente por ti e por mim. Foi por acreditares em algo que nem eu acreditava que conseguiste dominar a selva que ia cá dentro... e os dias tempestuosos tiveram um fim. A verdade é só uma, como te confessei há poucos dias: tu devolveste-me a vida. A vida que eu tinha perdido. Fizeste-me renascer. E isso não tenho algum dia forma de te pagar. Sempre te serei grata por me devolveres algo que eu considerava tão adormecido, perdido mesmo...

 

Tínhamos de falar. E tinha de ser sozinhos. No meio da natureza. No meio do nada onde eu não tivesse medo, não me acobardasse, não tivesse vergonha de chorar e mostrar-te o que sentia. Tinhas de ver e, mais importante, sentir, o que eu te iria dizer. Tinhas de conseguir entrar no meu coração através de cada lágrima minha, através de cada palavra, cada gesto inexistente. Saber ouvir-me. Saber ler-me. Saber sentir-me.

 

E foi por isso que te levei até lá. Momentos longos de sentimentos mistos - tristeza, decepção versus amor. O amor que um dia soubeste dar-me. Foi através de pequenos gestos, pequenas coisas que, muitas vezes, não lembram ao mais pequeno mortal, que me cativaste. Mas temos de cativar o outro durante a vida, a cada momento, a cada espaço de tempo em conjunto. Temos de fazer o outro feliz.

 

E eu não estava a ser.

 

Senti a tua impotência. Senti que não sabias o que fazer, o que dizer. Não fazias ideia. As palavras, por vezes, também não são importantes. Naquela hora, eu só precisava abrir o meu coração para ti. Tinhas de saber. Tinhas esse direito. E ouviste e, mais importante, sinto que sentiste e percebeste a minha dor, sentiste as minhas palavras como flechas no teu coração.

 

Por vezes penso e sinto se serei demasiado dura contigo. Demasiado sincera? Há palavras que magoam, mas podem salvar uma vida. Ou duas... E foi por isso que te disse tudo o que sentia. Se não estivéssemos ali, acho que nunca o teria feito. Teria fugido de mim própria, dos meus sentimentos que muitas vezes não te consigo expressar da melhor forma. Sinto-os tanto que não os consigo colocar em ti. Para ti.

 

Mas o teu gesto no final mostrou-me que há esperança. Eu acredito que aquela criança continua viva dentro de ti. Não morreu. Só a deixaste adormecer, ainda que inconscientemente. Eu tinha de ser a voz da tua consciência. Tinha de tentar reviver aquele sentimento que me fez olhar pelo vidro do carro enquanto dormias com a cabeça no meu colo no dia do meu renascimento, aquele sentimento que me fez abrir os olhos para um mundo azul escuro, um mundo de felicidade, aquele sentimento que me fez derramar uma lágrima de felicidade e sentir-me plena. Em paz. Em harmonia com o mundo e, principalmente, comigo mesma.

 

Merecemos uma oportunidade da vida. Ela deu-nos uma segunda estrada para percorrermos juntos. E eu quero percorrê-la até ao fim contigo. Com o menino por quem um dia eu vivi e revivi. Deste-me a vida.

 

Respiro fundo.

 

E penso de novo nisso... Não posso perdoar-te tudo, todas as lágrimas que me fazes verter, todos os pensamentos e sentimentos de dor, mas a verdade... a verdade é que sem ti teria sido tudo muito mais difícil. Não sei o que teria acontecido na minha pseudo-vida sem aquela decisão vinda do nada... acho que também não quero saber. Tenho-te a ti. Temo-nos. Mas temos de nos cativar. Cada dia, cada hora, cada segundo de vida. E tudo fará mais sentido...

 

E, no meu íntimo, no meio de lágrimas que chorei abraçada a ti nesse dia de revelação, acredito em ti. Acredito porque sei que acreditas. E porque sinto que sentiste...

 

E quando sentimos verdadeiramente o que dizemos, tudo se torna diferente...

 

E começa um novo mundo.

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